28.12.10

Paisagens Novas

Van Gogh-Portrait of Dr Gachet

Por Tanya Volpe

Você já chorou olhando um quadro ou ouvindo alguma música? . Lendo um livro é mais comum de acontecer, vendo um filme também. Acho que é porque neles há as palavras para mediar. Pergunto dessa comunicação sem palavras com uma obra de arte, quando ela te fisga e te transporta para um lugar de sentimentos indizíveis numa experiência perturbadora.

 Na primeira vez que fui a Paris decidi conhecer o Museu d’Orsay inaugurado há pouco na antiga estação de trem. Museu dos impressionistas, da pequena mas maravilhosa coleção de móveis e objetos Art Nouveau , das esculturas da virada do século XX,  das primeiras fotografias...
 Conhecer um museu pela primeira vez cansa porque você fica com vontade de “aproveitar” bem, não tem ainda os seus cantos prediletos e o passeio pode virar maratona. Pois foi assim dessa vez. Andei por várias salas, olhei milhares de coisas e fiquei exausta. Eu tinha a sensação que havía visto tudo! Me sentei em um banco para descansar quando vi uma portinha. Resolvi entrar para “xeretar”. Que susto!!! Aquela era uma pequena sala de Van Goghs !!!. Quando vi aquilo, de surpresa, na minha frente, não deu ! Comecei a chorar em cascata. O Dr Gachet  que havia ficado pendurado em uma cortiça na minha casa por tantos anos estava ali na minha frente. O  quarto de Arles, uma das noites estreladas, a igreja azul de Anvers! Trabalhos vistos pela vida toda em livros e agora ali, verdadeiros, numa salinha pequena. Fui para o terraço que fica no telhado do museu e olhando o Sena  e a Notre Dame , chorei aos borbotões, agradecida por aquele presente inesperado !

Van Gogh Museum - The bedroom, 1888


Um dia passeando com minha mãe em uma exposição de arte russa , logo depois que meu pai morreu, paramos na frente de um Chagall. Minha mãe que não conhecia o quadro começou a rir descontroladamente , perturbada, porque considerou uma “bobagem”, aquela mulher voando, segura pela mão do companheiro. Naquele momento eu só sabia morrer de vergonha da “gafe” de minha mãe. Demorei anos para realizar que a arte a tinha tocado sem que ela percebesse. Depois de 50 anos de casamento, ficar sozinha no mundo deveria mesmo ser motivo de muito medo de sair voando e não voltar...Perdida, era melhor rir.
샤갈의 [산책], 이 그림을..


Outra vez em NY, entramos em uma concorrida exposição de um chinês Cai Guo-Qiang (pronuncia-se sigh gwo chang) que eu desconhecia.

O trabalho desse artista transita entre os signos e símbolos chineses. Ele  cria instalações usando vários materiais tendo como referência a herança cultural chinesa. Da pólvora,  a medicina tradicional , ao feng shui  seus trabalhos revelam o desejo de achar novas aplicações para essas tradições culturais fora da China.

Na exposição seus trabalhos tomavam todo o Guggenheim do grande vão às curvas da estrutura do prédio. E a medida que íamos subindo e percorrendo a exposição as surpresas e assombros iam se sobrepondo, aumentando o deslumbramento. A cada nova obra parecia que o artista se superava e as emoções também. As instalações, eram seguidas de esculturas, depois vídeos de performances, pinturas gigantescas feitas com pólvora, até terminar em uma grande sala com um barco, relíquia desenterrada na aldeia nativa do artista, “encalhado” em cacos de porcelana branca, imagens de budas, vasos, chaleiras... Um assombro de tirar o fôlego !  Minhas lágrimas eram a expressão mais verdadeira de reconhecimento  e emoção.


Este filme é de Cai descrevendo a criação de uma de suas obras que se chama   “Head On” que também estava no Guggenheim. Ela é composta de lobos que caminham juntos em um grupo coeso e cujos passos vão se acelerando até ir de encontro a uma parede de vidro . Uma barreira invisível que tenta detê-los. É muito tocante e perturbador.

Coloquei aqui para desejar a todos um 2011 muito rico de emoções e que consigamos transpor todas as barreiras com sabedoria , calma, e criatividade. Mesmo as invisíveis !

Bonne Année !