23.12.13

Tempo a Favor

Luigi Guirri- Trani  - 1982

" Recentemente, ocorreu-me fotografar a casa do pintor Giorgio Morandi, e para mim foi uma experiência extraordinária.[...] Morandi não usou outra matéria além daquela da normalidade:voltou continuamente a pintar as mesmas garrafas, os mesmos copos e os mesmos vasos simples. Procurei aprender a mesma essencialidade. O tempo é um elemento importante, a repetição também, para a fotografia. Morandi havia descoberto que as coisas do mesmo modo, têm uma voz pessoal: é necessário colocar de lado a vontade de transformar, e escutar essa linguagem silenciosa. ( Luigi Ghirri)*


Luigi Ghirri - Atelier Morandi - Grizzana - 1989/1990
Desde o início dos anos 1970, quando começou a fotografar sua região natal Emilia Romana, norte da Itália , Luigi Ghirri ( 1943- 1992) , um dos mais importantes fotógrafos italianos, focou seu trabalho em cenas do cotidiano e aparentemente banais. Pensador, professor e curador, desenvolveu um trabalho fundamentado em teorias profundamente elaboradas que introduziram a fotografia no debate contemporâneo dos anos 70 e 80. Suas fotos,  de uma simplicidade desconcertante, revelam na verdade uma tomada de posição muito consciente, um desinteresse pela imagem com um fim em si mesma. Ele "transforma as coisas mais normais em sensações, e fazer isso repetidamente, é grande arte" diz o fotógrafo alemão Thomas Demand sobre o trabalho de Ghirri .


Giorgio Morandi - Desenho - 1969
Através da pesquisa da intensidade perfeita da cor, buscando cores insaturadas e delicadas ,  Ghirri foi capaz de criar um efeito cromático típico, o qual permite ao observador o sentimento de ir alem das imagens, alem das aparências. Graças à fotografia, o artista introduziu a possibilidade de representar as paisagens como ambientes antropomorfizados, dominados por um silencio quase metafísico que permite ao observador ver o óbvio a partir de um outro ponto de vista, que lentamente vai revelando os seus detalhes. 


Luigi Ghirri - Modena - Cemitério , Projeto Aldo Rossi - 1985
"Atrás de cada enquadramento há inúmeras imagens que, de tão repetidas, se tornaram banais : (...) (...) Ghirri subverte esse repertório comum, aparentemente inexpressivo, conferindo-lhe uma intensidade inesperada. Suas imagens, quando vistas pela primeira vez, são reconhecíveis, como se nos pertencessem, mas também despertam uma sensação de estranhamento, como se aquilo que é excessivamente familiar se tornasse, por isso mesmo enigmático." **

Luigi Guirri -Trento, Castello del Buonconsiglio - 1988
"(...) A sensibilidade à luz é um dos grandes trunfos da arte de Ghirri. (...) ele a prefere uniforme, sem contrastes dramáticos. Nesse sentido o mestre de Ghirri é Giorgio Morandi." ** E as fotos feitas por ele nos ateliers do artista em Bologna ( Atelier Morandi -1992) transmitem o estilo despojado do artista bolonhês que era também o dele.

Giorgio Morandi
É impossível não ver uma similaridade entre a expressão de Giorgio Morandi e Luigi Ghirri. As cores delicadas das fotos de Ghirri que nos alçam a lugares imaginários, quase oníricos, e a claridade das obras de Morandi que parecem desmaterializar as coisas, fazendo com que igualmente apareçam e desbotem na luz , trazem intrinsecamente uma semelhança e singularidade.


Giorgio Morandi - Landscape 1943
É sobre essa busca do encantamento com o que parece óbvio, menor, mas faz a essência da vida que eu quero falar hoje.


Talvez seja falar do tempo na maturidade onde as urgências vão se diluindo e simultaneamente se apurando, porque há a certeza que a sua passagem influencia beneficamente todas as coisas.

A complexidade da percepção se dá com o tempo.


Quero mais tempo a favor !

Luigi Guirri - Formigine - Ingresso Casa Colonica
Oração Ao Tempo

És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
(...)
Vou te fazer um pedido
(...)
Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
(...)
Entro num acordo contigo
(...)
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
(...)
És um dos deuses mais lindos
(...)
Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
(...)
Ouve bem o que te digo
(...)...
Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
(...)
Quando o tempo for propício
(...)
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
(...)
E eu espalhe benefícios
(...)
O que usaremos prá isso
Fica guardado em sigilo
(...)
Apenas contigo e comigo
(...)
E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
(...)
Não serei nem terás sido
(...)
Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
(...)
Num outro nível de vínculo
(...)
Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
(...)
Nas rimas do meu estilo
(...)***

Giorgio Morandi - Aquarela -
*GHIRRI Luigi "Paesaggio e rivelazione,intervista di Carlo Dignola. L'Avvenire, 08.05.1990 citado no catálogo da exposição Pensar por Imagens de Luigi Ghirri no IMS - Instituto Moreira Salles SP 2013

** Lorenzo Mammi em texto no catálogo da exposição Pensar por Imagens de Luigi Ghirri no IMS - Instituto Moreira Salles SP 2013

*** (Tempo tempo tempo tempo )

25.9.13

Citação da citação


(...) advertência de Borges, feita através de Martin Fierro, onde está escrito

saibam que esquecer o ruim

também é ter memória

o que segundo Borges é sinal de esquecimento criativo ou 

de memória criativa .


( O homem que vive - uma jornada sentimental - Teixeira 

Coelho)*


Só a memória criativa, faz da vida  um romance 

cheio de capítulos emocionantes e isentos de dor.

Capitular não entra nesse parâmetro, (se desculpar ,

talvez ... jamais)

agora eu era o herói ...

que buraco fundo é esse ?



* Ed Iluminuras 2010


16.9.13

e.e.cummings



trago o teu coração comigo (eu o trago em
meu coração) eu nunca estou sem ele (aonde quer
que eu vá, tu vais , meu amor; e o quer que seja feito
por mim sozinho , é por ti feito, minha querida)

eu temo

jamais o destino (se és meu destino,doçura) eu quero
nenhum outro mundo (se és bela, meu mundo, minha verdade)
e  tu és tudo que uma lua já possa ter significado
e o que quer que o sol venha a cantar, pela eternidade

eis aqui o segredo mais profundo que ninguem conhece
(eis aqui a raiz da raiz e o botão do botão)
e o céu do céu de uma árvore chamada vida; que cresce
para além do que a alma espera ou o a mente não enuncia)
e  este é o prodígio que mantém as estrelas separadas

eu trago o teu coração (eu o trago em meu coração)


(tradução Wagner Humberto Durães de Oliveira)



i carry your heart with me(i carry it in
my heart)i am never without it(anywhere
i go you go,my dear; and whatever is done
by only me is your doing,my darling)

i fear

no fate(for you are my fate,my sweet)i want
no world(for beautiful you are my world,my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you

here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life;which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart

i carry your heart(i carry it in my heart)

e.e.cummings
Complete Poems: 1913-1962
Harcourt Brace Jovanovich, New York, © 1963.

22.8.13

Por que você partiu ?



Em busca da resposta a essa pergunta formulada a ele mesmo e, por seu pai de maneira pungente,  Eric Belhassen, francês residente no Brasil,  constrói um filme encantador.

Formular a chefs de cozinha franceses que se estabeleceram por aqui a mesma pergunta,  ilustra e diversifica a questão.

Emmanuel Bassoleil , Erick Jacquin , Laurent Suaudeau, Alain Uzan, Frédéric Monnier e Roland Villard  são os chefs entrevistados



Em busca de respostas o diretor viaja para a França para confrontar em entrevistas os pais dele, e de todos os outros com os depoimentos dos filhos.

Não sei quanto tempo ele ficou com seus entrevistados mas o talento do diretor como documentarista é imenso. Ele consegue retirar emoções as mais recônditas de suas personagens.Os planos são fechados nas expressões dos rostos, nos olhos que se transformam, que vão se marejando num processo conduzido com muita delicadeza .

Eric tem calma e  espera que a emoção total se exprima. Uma montagem eficiente completa o ciclo sem cair no piegas.



Destaco, entre um dos tantos momentos tocantes do filme, quando a mãe de Laurent Suaudeau canta, a principio hesitante, e depois com uma voz límpida muito linda,  "Manhã de Carnaval" (Luiz Bonfá e Antônio Maria) na versão francesa. Encontro simbólico poético das duas pontas , Brasil e França.

Encontro também bem sucedido quando praticado nas cozinhas desses chefs que conseguiram unir o rigor e técnicas da grande cozinha francesa com os ingredientes brasileiros.

Laurent Suaudeau
As sinopses sobre o filme realçam bastante essa questão. Mas para mim ele foi lido mais como essa relação tão difícil que nos une e separa de nossos pais.

Comovente trabalho sobre o crescimento, a maturidade e a separação.

Fica quase impossível não entender porque todos eles partiram , porque enfim, partimos todos nós.

Só que para aquelas personagens do filme tornarem-se homens, precisaram desses 13000 km de separação.



NOME ORIGINAL: Por Que Você Partiu?
PAÍS DE ORIGEM: Brasil
GÊNERO: Documentário
DURAÇÃO: 94 min
ANO: 2013
DIREÇÃO: Eric Belhassen
ROTEIRO: Eric Belhassen, Marc Belhassen
EDIÇÃO: Eric Belhassen, Nick Story
FOTOGRAFIA: Mauro Martins
MÚSICA: Eric Belhassen
PRODUÇÃO: Eric Belhassen, Marc Belhassen
ESTÚDIO: Boca a Boca Filmes, Teleimages




















25.7.13

Novidade ótima !


Meu panforte chegou ao Santa Luzia !
Estou muito feliz e orgulhosa por prezar de tão boa companhia.

E mais ainda agradecida a Nami Wakabayashi que desenhou a" roupa nova" linda para ele desfilar por lá!