Alberto da Veiga GUIGNARD - Natureza-Morta 1933 |
Por Tanya Volpe
Ele sempre te olha franzindo a pálpebra e fechando o olho esquerdo, que quase não enxerga. Como para compensar faz um movimento de boca que retorce o rosto e significa que está com a escuta em alerta .
É filósofo especialista em estética e tropicália. Foi professor a vida inteira. Mas isso é muito pouco para defini-lo. É um mestre. Daqueles que conduzem os atentos abrindo portas, desvendando caminhos, alinhavando pensamentos tolos de iniciantes, nos quais, generoso, visualiza encantos escondidos.
É meu companheiro em muitas viagens que se tornaram memoráveis por isso.
Passeando pelas ruas de Tiradentes ele começou a declamar Drummond. A Máquina do Mundo. Assim, naturalmente, como se contasse uma história. Ao final fico sabendo – “Leio Drummond diariamente. Ele salvou minha vida” . Em silêncio, olhando as montanhas de Minas, seguimos. Só.
Viajando de novo, me contou ter ganho o primeiro sapato aos 9 anos quando se mudou da fazenda onde nasceu para a cidade, Americana. Desse tempo descalço na terra, lembra o prazer imenso de enfiar os pés cansados na água fria do riacho ao entardecer. Foram suas primeiras experiências com o “sublime”, que só aprendeu a definir mais tarde.
Adora comida simples e bem feita. Descreve com as mãos abertas, os dedos em arco, (talvez reminiscências do tempo em que foi coroinha) , o tamanho do sanduíche de porchetta, delicioso, que descobriu por acaso em uma barraca de rua. Com seu sorriso maroto, quase lambemos os dedos com ele. Adora uma talagada de pinga, das boas, não das caras.