22.1.17

Gratidão

Katsushika Hokusai - 216

"... nunca prometeria parar de chorar. Acalmara, mas sabia bem que a felicidade se compunha da soma de muita tristeza também. Carregaria essa tristeza no seu pranto respeitoso, espaçadamente. E chorar seria também a sua mais íntima prova de gratidão."

 Homens imprudentemente poéticos - Valter Hugo Mãe - Biblioteca Azul - pg 153

18.1.17

Alma Autônoma

Anne Truitt - Threshold: Work from the 1970s - Matthew Marks Gallery- NY , 2013

Love ... is the honoring of others in a way that grants them the grace of their own autonomy and allows mutual discovery. (Anne Truitt- artista plástica americana)


Amor...é honrar os outros concedendo-lhes a própria autonomia, permitindo assim a descoberta mútua. (livre tradução)


Anne Truitt - Threshold: Work from the 1970s - Matthew Marks Gallery- NY , 2013



15.1.17

Tristeza Ampliada


Um dos mais belos trabalhos de arte, criado nos últimos anos, está ameaçado de não existir pela burocracia e ignorância humanas.

Jonas Dahlberg, artista sueco, ganhou em 2014 por unanimidade,  o concurso para criar um memorial para as vítimas do massacre de 77 pessoas, a maioria crianças, ocorrido em 22 de julho de 2011 na ilha de Utøya, na Noruega.

Imaginou um "corte" na península onde ocorreu o massacre, uma fatia de 3,5 metros de largura entre a superfície da paisagem e a linha de água, na vila norueguesa de Sørbråten , tornando efetivamente impossível chegar ao fim do promontório a pé.

"Eu não queria condenar o terrorismo e nem mesmo me confrontar com um trabalho político. Eu tinha acabado de perder meu pai, e então senti a necessidade de dar uma imagem à dor, à perda, a sensação de que algo irreparável havia acontecido. E se há algo de irreparável, é a morte. " Diz Dahlberg.

E criou " Um anti-monumento para nos mostrar que não precisamos de monumentos, mas um retorno para a função mais importante da arte: a sua sacralidade cósmica." - nas palavras da critica de arte italiana Alessandra Mammì.


Sob ameaça de ação legal, o governo norueguês tentou transferir o projeto, conhecido como Memory Wound  para outro lugar,  depois de uma feroz oposição dos moradores locais, que fizeram campanhas por anos para bloqueá-lo, descrevendo-o como uma "violação da natureza", uma "atração turística" e um "monumento hediondo", de acordo com o site de notícias The Local. No entanto, os residentes também recusaram uma oferta de reassentamento e agora estão pressionando para que o projeto seja completamente desfeito.


Dahlberg pediu um compromisso do governo para garantir a realização da obra artística. Em uma longa declaração, ele descreveu as negociações públicas como "uma parte importante do processo de luto", que o governo tem o dever de realizá-las.

"A maioria dos memoriais comparáveis, ​​em outras partes do mundo, passaram por períodos ainda mais longos de incerteza antes de serem concluídos, em comparação com os cinco anos que se passaram desde os eventos de 22 de julho na Noruega", disse ele.

"Muitos também foram cercados por discussões igualmente complexas. Supervisionar esta delicada situação, e suavemente orientar a conversa, é uma responsabilidade do governo".



Um grupo internacional de artistas e curadores (*) lançou um manifesto defendendo o Memory Wound ,de Jonas Dahlberg em carta aberta divulgada em 1/10/2016.

"A instalação da obra de arte de Jonas Dahlberg, Memory Wound, em Sørbråten tem causado um debate acalorado há algum tempo. O memorial estava programado para ser concluído em 2015, mas agora está se transformando em um caso legal difícil, comprometendo os planos para realizar uma das mais importantes obras públicas de arte do nosso tempo, na região Nórdica, e uma manifestação crucial contra o terrorismo. Não é de se estranhar que o projeto de um local com essa finalidade seja acompanhado de debate; este é sempre o caso - porque há sentimentos fortes envolvidos, e o propósito é manter a memória viva, e esta memória é dolorosa. As discussões não são um problema; elas são uma parte essencial do processo, uma estratégia para lidar com o evento.

O propósito dos memoriais é precisamente preservar uma memória; viver com eles nos permite processá-la. Em todo o mundo, memoriais provaram ter um efeito curativo, não apenas nacionalmente, mas também na área atingida. O que aconteceria se nos abstivéssemos de criar memoriais porque tínhamos medo de que eles pudessem ser perturbadores? Que tipo de sociedade isso geraria?

O trabalho de Jonas Dahlberg é uma das obras de arte mais poderosas nos países nórdicos. Memory Wound é um corte na rocha, uma ferida na natureza. Para os caminhantes ao longo do caminho , apresenta um lugar sereno e bonito para a contemplação, entre o mar e as falésias. Jonas Dahlberg nos obriga a olhar para dentro, longe da ilha, para que possamos acolher a maior tristeza dentro de nós mesmos.

Essa obra de arte já está estabelecida nas mentes das pessoas em todo o mundo. Ela foi publicada em jornais e livros, e discutida em locais de trabalho e em torno de mesas de jantar. A razão para isso, é que ela capta de forma tão pungente o evento para o qual foi projetada a lembrar, enquanto oferece um lugar para lidarmos com a nossa dor. Isso é exatamente o que a arte é capaz de nos dar, um relacionamento emocional com eventos tão brutais que se tornam impossíveis de compreender.

Nesta discussão, é vital lembrar que não é a obra de arte que é brutal, mas as ações que contempla . Brecar essa obra é reduzir a magnitude do evento em si. É negar às pessoas o acesso aos seus próprios sentimentos, recusar a elas uma reflexão sobre o valor de uma sociedade democrática.
Apelamos ao Governo Norueguês para que seja corajoso, e permita que Memory Wound se torne um digno lugar de cura, através do processamento das feridas ao invés de suprimi-las." (**)


E eu digo : que assim seja.


Jonas Dahlberg "Diorama" at Galerie Nordenhake, Stockholm, Sweden, Images Courtesy of the Gallery

(*)signatários da carta originalmente distribuída por e-mail em formato PDF:
Miroslaw Balka, artist Warszawa, and reponible for Estonia monument in Stockholm
Daniel Birnbaum, director Moderna Museet Stockholm
Konrad Bitterli, vice- director Kunstmuseum St.Gallen
Iwona Blazwick, director Whitechapel Art Gallery, London
Ina Blom, professor, IFIKK, Institutt for filosofi, ide- og kulturhistorie og klassiske språk Oslo Universitet
Mikkel Bogh, director Statens Museum for Kunst, Köpenhamn
Manuel Borja-Villel, director Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid
Gerard Byrne, artist Dublin Dan Cameron, curator Prospect I and II, Cuenca Biennial, New York
Lauren Cornell, curator New Museum, New York
Florence Derieux curator Centre Pompidou Foundation Paris og New York
Claire Doherty, director Situations Bristol
Olafur Eliasson, artist Berlin
David Elliott, curator, previously director Mori Art Museum Tokyo
Charles Esche, director Vanabbe Museum
Dora Garcia, artist and professor of visual arts, Kunstakademiet Oslo
Eva Gonzales Sancho, curator, previously director for FRAC Bourgogne
Leevi Haapala, director Kiasma Hesinki
Tone Hansen, director Henie Onstad Kunstsenter Oslo
Sofia Hernandez Chong Cuy, curator CPPCA (Art and Ideas from Latin America), New York
Alfredo Jaar, artist New York
Hicham Khalidi, associate curator Fondation d'entreprise Galeries Lafayette, Paris
Magdalena Malm, director Statens Konstråd, Stockholm
Chus Martinez, curator Institute of Art at FHNW Academy of Art and Design, Basel
David Neuman, director Magasin 3, Stockholm
Isabella Nilsson director Göteborgs konsthall
Lars Nittve, senior advisor M+, Hong Kong
Marit Paasche, art critic and museum curator
Ann Pasternak, director Brooklyn Museum
Laura Raikowitz, director Queens Museum
Mats Stjernstedt, artistic director Hus, Oslo
Kjetil Trædal Thorsen, founding partner Snöhetta, Oslo
Nato Thompson, chief curator Creative Time New York
Sabrina van der Ley, head of contemporary art department, Nasjonalmuseet for kunst, arkitektur og design Oslo
Philippe Vergne, director MOCA, The museum of contemporary art Los Angeles

(**) tradução livre

11.1.17

Bravata

RICHARD LONG -  A LINE IN JAPAN - MOUNT FUJI  1979

 Trato saudade ou depressão a tapa.
É preciso chicotear essas vadias.

 trouxa frouxa - Vilma Arêas - Companhia das Letras  pag 41



7.1.17

Lado a Lado

Willis de Castro - Sem título - Guache sobre papel

Hoje você me viu
e quando me descobriu
(embora eu já soubesse
quem era você
antes que me tivesse visto)
senti-me repentinamente
achado por você e para mim

Willys de Castro

4.1.17

Declaração

Jean Siméon Chardin- Still Life with Teapot, Grapes, Chestnuts, and a Pear

" O impossível é uma quantidade que excede o que nos falta."

 Homens imprudentemente poéticos - Valter Hugo Mãe - Biblioteca Azul - pg 68