Auguste Rodin Danseuse nue vers 1900 |
O amor
“Na
selva amazônica, a primeira mulher e o primeiro homem se olharam com
curiosidade. Era estranho o que tinham entre as pernas.
–
Te cortaram? – perguntou o homem.
–
Não – disse ela – Sempre fui assim.
Ele
a examinou de perto. Coçou a cabeça. Ali havia uma chaga aberta. Disse:
–
Não comas mandioca, nem bananas, e nenhuma fruta que se abra ao amadurecer. Eu
te curarei. Deita na rede, e descansa.
Ela
obedeceu. Com paciência bebeu os mingaus de ervas e se deixou aplicar as
pomadas e os ungüentos.
Tinha
de apertar os dentes para não rir, quando ele dizia:
–
Não te preocupes.
Ela
gostava da brincadeira, embora começasse a se cansar de viver em jejum,
estendida em uma rede. A
memória das frutas enchia sua boca de água.
Uma
tarde, o homem chegou correndo através da floresta. Dava saltos de euforia e
gritava:
–
Encontrei! Encontrei!
Acabava
de ver o macaco curando a macaca na copa de uma árvore.
–
É assim – disse o homem, aproximando-se da mulher.
Quando
acabou o longo abraço, um aroma espesso de flores e frutas invadiu o ar. Dos
corpos, que jaziam juntos, despreendiam-se vapores e fulgores jamais vistos, e
era tanta formosura que sóis e deuses morriam de vergonha”.
Este conto pertence ao livro Mulheres,
de Eduardo Gal eano (1997) L&PM Pocket
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Muito obrigada pelo seu comentário.Por favor deixe o seu nome e se quiser alguma resposta específica, o seu email. Um abraço, Tanya