Royal Porcelain Bowl - Ca 1900 - Áustria |
Cozinhar era uma coisa normal ligada ao cotidiano e à história
das famílias . Não existia por aqui o arroz italiano, ‘flor de sal’, aceto
balsâmico... Foi então que conheci Dona Martha. Mestra cozinheira.
Paul Cézanne - La table de Cuisine |
Martha Kardos |
Eu tive a sorte e o prazer de conhecê-la , e aprender com ela de
duas maneiras diferentes.
Dona Martha organizava jantares semanais para sua família . Se
não me engano eram às quartas feiras. Seus filhos e netos deveriam confirmar a
presença e estavam autorizados a levar um ou dois amigos, sempre com consulta e
autorização prévias. O número de pessoas não podia exceder o número de lugares
da sua mesa. Como amiga de seu neto André tive a honra de ser convidada algumas vezes para estes jantares e ali todos
os detalhes me encantavam. Fui introduzida ao ritual da comida. Aprendi que cozinhar
podia ser muito mais. Compreendi este doce prazer que é planejar, preparar e oferecer. O chique da
simplicidade. Nesse jantares todos os
detalhes estavam pensados para conduzir ao prazer e à surpresa.
©
Katie Quinn Davies
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Lembro-me sempre e
invejo, seu arquivo de fichas com os nomes dos convidados. O menu completo
servido estava lá anotado. Ninguém, salvo pedido expresso, jantaria uma receita
repetida. No código de hospitalidade de Dona Martha isto era inconcebível .
Sua mesa ficava encravada em um canto aconchegante da cozinha.
Cozinha e sala de jantar indissociáveis, parte da sua vida.
Meu segundo aprendizado com Dona Martha deu-se em suas aulas de
cozinha propriamente ditas. Aí a coisa era séria. As brincadeiras estavam
proibidas. Não era à toa. Toda a educação e cultura européia afloravam . Foi lá
que ouvi falar de técnica culinária. A maneira correta de fazer uma omelete, o
molho branco, a massa ‘podre’. Como misturar claras em neve e derreter gelatina
em folha. A ordem de entrada dos ingredientes em uma receita.
Ao compartilhar seus conhecimentos multiplicava uma das suas
principais características, a generosidade.
A presença de um neto fez com que nosso curso fugisse um pouco
do formato habitual. Montamos um grupo de amigos, homens e mulheres. Não eram
muitos os homens que se aventuravam na cozinha naquele tempo. Como éramos todos
amigos, dividíamos a compra de ingredientes, fazíamos as aulas aos sábados à
tarde e nos encontrávamos à noite para jantar nossa obra. Que festa!
Orgulhosamente me sinto pertencente à linhagem dos filhotes
de Martha. E, para mim está muito claro que eram outros os tempos. As pessoas
com a, educação, classe e a gentileza de Martha infelizmente andam rareando no
século XXI.
Lindo texto ,Tã . Dá vontade de voltar no tempo e ser uma convidada de Dona Martha . Parabéns . beijo.
ResponderExcluirTan, então foi assim que tudo começou...? Eu sempre quis te perguntar!
ResponderExcluirA sua história com dona Martha pode fazer parte de outro tempo, mas segue despertando o apetite da gente pelas coisas boas da vida.
beijo
Tan, que encanto! Delícias de uma paisagem distante!
ResponderExcluirUm beijo enorme
Adorei seu texo, muito gostoso de ler e refletir. Parabéns!
ResponderExcluirQueridas amigas, muito obrigada pelos comentários e o carinho de sempre !
ResponderExcluirÉ bom saber quando nossas lembranças despertam afetos e ternuras. Merci
Bento, adorei. Sua avó é linda!
ExcluirFlavio Bitelman
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